Casa grande. Família numerosa. Parentes a perder de vista. A população flutuante não cessava o entra e sai onde eu e meus familiares passamos boa parte de nossas vidas. Antes, um casal. Aos poucos e num piscar de olhos, foram chegando as crianças. Doze, no total. Lá pela metade da feitura da prole, fora pedido reforço e uma tia veio morar conosco. Minha mãe não tinha auxiliares para os afazeres domésticos. Contava apenas com uma lavadeira que comparecia, às segundas-feiras. Dona Luzia amarrava a grandiosa trouxa de roupa, com maestria. Primeiramente, ela ia pondo roupa por roupa até formar um volume bem alto; isso sem antes colocar barras de sabão de produção caseira para coroar tamanha arrumação. Em seguida, pegava duas pontas transversais, dando dois nós nelas e finalizava pegando as duas outras pontas contrárias para fazer o mesmo. Era tudo bem compactado e, ao por aquela torre de roupas na cabeça, partia rumo ao rio que circundava a cidade para ali retirar a sujeirada que nossa família produzira. Era um assombro vê-la suspender todo aquele peso, pô-lo na cabeça e passar ainda muitos minutos de conversa com minha mãe para só depois desfilar em busca da água e completar seu mister. A fábrica de minha mãe produziu mais gente do que a de D. Luzia que tivera nove filhos. A relação entre elas não era a de patroa e empregada. Eram quase irmãs. Sabiam das muitas necessidades uma da outra. Tornaram-se confidentes e comadres. Aos poucos, o serviço de nossa lavadeira foi sendo substituído por nossas mãos. Cada uma das meninas era encarregada de cuidar de si mantendo roupas e lençóis limpos. Em relação à roupa dos meninos, mamãe ia fazendo aos poucos, quando lhe sobrava tempo. No tempo de D. Luzia, nada de tanquinho, máquina de lavar e/ou pia. Roupa ensaboada, deixada de quarador, sacudidelas de água para conseguir branquear as peças expostas ao sol e finalização com o enxague. Assim, a saudosa D. Luzia deixou por muito tempo as roupas de minha família nos trinques. Hoje, com certeza, ela está branqueando a roupa dos anjos, no céu.
D. LUZIA, A LAVADEIRA
- Por Grande Piripiri
- Em (A) LETRADO (A), Destaques
- 13 de dezembro de 2024
POR RITA ESCÓRCIO
Compartilhe
D. LUZIA, A LAVADEIRA
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Outras notícias
Confira outras notícias que pode lhe interessar