Por Airton Ramos, jornalista e cinéfilo
Que Horas Ela Volta? (Brasil, 15) é de longe, o melhor filme brasileiro do ano de 2015 (tô pra ver uma safra pior) e confesso que mesmo fazendo parte dessa herança constrangedora de ter empregada doméstica em casa (desde Piripiri) o filme é um tapa na cara dessa herança ancestral da nossa colônia e que ainda hoje é embaraçosa.
Talvez isso e a colocação sem frescuras da doméstica vista como gente pela elite mas ao mesmo tempo, sofrendo humilhações constantes (pega isso, Val, lava isso, Val, sai Val) é que mostra o quão difícil é o nosso país, que ainda hoje tem um ranço burguês e de preconceito ainda muito longe de ser vencido. O fato dos alemães (lá, eles não tem empregada doméstica) terem se chocado com o filme mostra muito disso.
Regina Casé (perfeita, muito longe do Esquenta) demonstra seu talento de atriz como Val, uma empregada que se sente parte de uma família rica e vê todo seu mundo desmoronar ao receber Jéssica (Camila Márdila, gostei da garota, tem futuro) que questiona aquele mundo de opressão em que a mãe se encontra: uma vida de faz de conta em que nada lhe é permitido.

Com muita perspicácia, a diretora Anna Muylaert evita o conflito fácil, adiando ao máximo, discussões ou coisa parecida, um trunfo muito bem feito.
Uma coisa que poderia ser fácil, com a patroa esquisita de Karine Teles que nunca entra em conflito com as inquilinas. Uma fita simpática, desafiadora, com atores fazendo bem seus tipos.



